MINHAS PRÁTICAS DE INCLUSÃO

Desde que tomei conhecimento de que na minha cidade, numa escola estadual, havia uma sala de recursos para atendimento aos alunos com deficiência visual, interessei-me pelo assunto. Depois fiquei sabendo também que na rede da 39ª Coordenadoria haviam sido cadastradas em torno de sessenta pessoas com DV. Nestes nove anos de trabalho junto aos alunos na sala de recursos, acolhi a idéia da inclusão com critérios claramente definidos, discutida em vários níveis, na escola e na sociedade, buscando contribuir para a autonomia dos alunos, sempre tão carentes de ajuda na superação de suas necessidades primordiais. O que considero de suma importância é a afinidade que podemos estabelecer com o aluno deficiente, pois é através desse vínculo de confiança que podemos aguçar seu interesse em promover cada vez mais sua cidadania, na busca de seus direitos primeiros, como documentação, aposentadorias, entre outros. Faço-os saber dos seus direitos, do que a legislação prevê para eles, pois do que eles necessitam é exatamente alguém que os oriente e que ao mesmo tempo os deixem caminhar. Depois, o incentivo à sua participação em cursos, fóruns, encontros, debates, associações, que só vem acrescentar um sabor especial na vida deles, pois sabem que não estão solitários em sua caminhada.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

UM RELATO SIGINFICATIVO

Joel Antonio de Oliveira, “Seu Joel”, diz ter de 15 a 20% de resíduo visual, não consegue contar dedos há mais ou menos um metro, é Conselheiro Fiscal da Associação Carazinhense de e para Deficientes Visuais - ACADEV da qual é ex-presidente. Acometido de retinose pigmentar, abandonou os estudos na 5ª série do Ensino Fundamental, e foi aposentado por invalidez aos 30 anos, após dois anos de peregrinações com afastamentos do trabalho. Trabalhava como mecânico, diz que era o “braço direito” do seu empregador.Os médicos não o liberavam para voltar ao trabalho e não lhe dispensavam tratamento médico. Então foi encaminhado para exames em Curitiba sendo finalmente, aposentado.
Sua reação ao ser aposentado – o que atestou sua deficiência - foi de inconformidade, então foi buscar ajuda em São Paulo. Viajou sozinho e andou muitas horas a pé, perguntando pela Av. São João para encontrar o endereço da clínica onde foi procurar tratamento. Lembra de ter procurado placas dos números dos prédios e ao conseguir ler um número mais baixo, era aproximadamente 5.000 e o número do endereço que procurava da era 100.
Bem humorado, diz que nada o incomoda por ser um cego legal, pois assumiu sua deficiência, locomove-se independentemente, sem auxílio da bengala longa, mas evita locais estranhos e saídas à noite sem um acompanhante.
Perde a capacidade visual ao adentrar em um ambiente fechado em dias de sol, pois seus olhos precisam adaptar-se à mudança brusca de luz. Diz que soube que existem uns óculos que filtram a luz, para ser usado inclusive à noite, evitando esse choque diante da mudança de um ambiente muito claro para um mais escuro ou vice-versa.
Cita as dificuldades ou barreiras como a falta de acessibilidade em órgãos públicos de nossa cidade, tais como INSS, Estação Rodoviária e inclusive na Prefeitura Municipal. Em relação às vias públicas enfatiza as calçadas destruídas, placas nas calçadas com cores neutras, sem contraste, difícil acesso aos transportes, falta de áudio nos coletivos urbanos, portões de garagem que abrem para a rua sem sinalização sonora, entre outros. Relata que consegue ler placas quando estas são baixas, na altura dos seus olhos.
Enfatiza que as pessoas com deficiência visual assustam-se diante de certos obstáculos, pois somente se dão conta quando estão muito próximos e esbarram neles.
Relata ter passado por uma situação muito estranha quando se deslocava por uma calçada em direção à sua residência. Policiais armados estavam revistando bandidos que estavam com as mãos na parede e ele passou entre estes e os policiais. Só deu-se conta depois de ter passado.
Cita o constrangimento por que passa quando pessoas conhecidas o chamam de orgulhoso, pois ele passa pelas pessoas e não as enxerga. Sua audição perfeita o ajuda, se as pessoas falam, ele escuta. Relata uma situação em que uma pessoa ofereceu-lhe carona e ele não sabia quem era, mas como a pessoa dirigiu-se a ele com intimidade e sabia onde era sua casa, ele aceitou a ajuda. Diz sentir essa barreira interna que é a de não consegui expressar para as pessoas que não sabe com quem está falando.
Hoje, tem consciência da sua dificuldade visual e sente-se muito feliz em poder fazer uso das tecnologias disponíveis, na computação sonora, recursos de ampliação, lupa eletrônica, a possibilidade da aprendizagem do braile.
Diz que um médico lhe falou após um exame, que perdeu a visão central “de dentro para fora”, isto é, perdeu inicialmente a visão central de ambos os olhos.
Apesar de sentir que sua acuidade visual está diminuindo, “Seu Joel” é uma pessoa feliz, que tem energia suficiente para passar aos deficientes visuais mais jovens e inexperientes e que também passam por dificuldades tão grandes como as que ele enfrentou.

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