MINHAS PRÁTICAS DE INCLUSÃO

Desde que tomei conhecimento de que na minha cidade, numa escola estadual, havia uma sala de recursos para atendimento aos alunos com deficiência visual, interessei-me pelo assunto. Depois fiquei sabendo também que na rede da 39ª Coordenadoria haviam sido cadastradas em torno de sessenta pessoas com DV. Nestes nove anos de trabalho junto aos alunos na sala de recursos, acolhi a idéia da inclusão com critérios claramente definidos, discutida em vários níveis, na escola e na sociedade, buscando contribuir para a autonomia dos alunos, sempre tão carentes de ajuda na superação de suas necessidades primordiais. O que considero de suma importância é a afinidade que podemos estabelecer com o aluno deficiente, pois é através desse vínculo de confiança que podemos aguçar seu interesse em promover cada vez mais sua cidadania, na busca de seus direitos primeiros, como documentação, aposentadorias, entre outros. Faço-os saber dos seus direitos, do que a legislação prevê para eles, pois do que eles necessitam é exatamente alguém que os oriente e que ao mesmo tempo os deixem caminhar. Depois, o incentivo à sua participação em cursos, fóruns, encontros, debates, associações, que só vem acrescentar um sabor especial na vida deles, pois sabem que não estão solitários em sua caminhada.

quinta-feira, 18 de junho de 2009



Aprendendo calcular no soroban.

domingo, 14 de junho de 2009

DIANTE DA CATÁSTROFE

A Cegueira Adquirida e a Ilusão da Cura[1]

Elizabet Dias de Sá[2]


"Quero minhas letras, meus olhos... Nada de fazer furinhos no papel[3]. O mundo sem visão não tem beleza. Os amigos sumiram... Sem ver, não tem jeito de viver. O cego não pode fazer nada e ninguém pode ajudá-lo" O Sr X, professor de inglês, ficou cego aos 50 anos, vitimado por uma brincadeira de seus alunos, quando lançavam, ao ar, objetos miúdos e pontiagudos , atingindo-o nos olhos. Após prolongados períodos de licença médica, aposentaram-no por invalidez. Não havia mais lugar para ele na escola, onde diziam que seu hábitat natural seria uma instituição para cegos. Sentado de cabeça baixa, encolhido e sem me olhar, pedi ao Sr X para se recordar do modo como se colocava diante das pessoas quando enxergava. Ajudei-o, modificando sua posição. Notei seu temor ao desequilíbrio e à falta de referências. Sugeri que recordasse sua marcha. Ele estava tenso e com medo, seus movimentos eram contidos. Mostrei como aquela postura atraía a piedade das pessoas. Deixei-o conhecer o ambiente, localizando as portas, janelas, o mobiliário e os objetos. Ele hesitava com receio de esbarrar, tropeçar e derrubar coisas. Eu o encorajava, fazendo-o apalpar cada objeto até obter as informações que o permitiam identificá-lo. Entre blasfêmias e lamentos, o Sr X fazia perguntas e comentários: "Será que não escaparei da bengala? O Mata Machado[4] nunca usou bengala e não gostava de ser cego" O Sr X apresentou-se a mim acompanhado por uma mulher. Ela repetia que seu parceiro estava muito nervoso e precisando de ajuda, sem a qual poderia cometer suicídio. Confidenciou-me que ele sonhava com a possibilidade de uma cirurgia nos Estados Unidos, não sabendo que seu estado era irremediável. Ela sempre se valia da ausência dele para falar comigo, manifestando seu temor de que ele perdesse o controle, cometendo uma loucura. Conhecera-o cego e estava disposta a fazer tudo por ele. O Sr X se relacionava com pessoas que se espantavam com sua cegueira e não se mostravam preparadas para ajudá-lo. A família não o considerava uma pessoa "credenciada" para a cegueira porque ele não se conformava com seu destino, estando apegado às coisas materiais e não abstratas. Suas queixas, reclamações e inferências eram perturbadoras e eram como se o acusassem de ser cego. Ele se sentia culpado e ofendido com a estupidez daqueles que possuíam visão. Sentia raiva de quem o pretendia consolar recomendando fé em Deus ou a busca em Cristo, enquanto ele preferia ir em busca de seus olhos ou meter-se dentro do quarto e esperar a morte. Para ele, a única coisa que poderia salvá-lo seria a recuperação de sua visão. "Sempre usei a visão para as coisas boas e não para as más. Nunca matei ninguém para merecer isso. Não quero dar trabalho. É melhor sair por aí, dando cabeçadas do que ficar parasitando os outros." O Sr X comparava-se a um cachorro acorrentado que só recebe água e comida, choramingando diante dos maus tratos. Sentia vergonha de ser cego e percebia que as pessoas não sabiam lidar com a deficiência. Convivia com seu mundo desmoronado, em ruínas e, inconformado, não suportava tanta agonia, estando aprisionado ao corpo vidente. Não admitia a humilhação da cegueira e desejava recuperar sua visão a qualquer custo. Para isto, recorreu a muitos médicos, tentando dissipar a dúvida que o atormentava. Ouviu deles que onde há luz, há esperança e que devia confiar nos avanços da medicina moderna. Ele se irritava com a falta de informações corretas e de dados precisos, pois conhecia a verdade sobre sua nova condição e queria ouvir a confirmação do que já sabia. Com o tempo, ele não precisou de mais ninguém para compreender que era um homem cego.



ELABORANDO O LUTO

Não raro, ouvimos dizer que alguém virou outra pessoa depois que ficou cego. Em parte, isso é verdade, pois a cegueira é a ruptura repentina e radical com todas as referências visuais, o que desorganiza e despersonaliza. A cegueira significa muitas e grandes perdas, significa mudança de vida. Thomas J. Carol (1968)[5] escreveu um livro que narra com minúcias a situação da pessoa que adquiriu a cegueira em dado momento de sua existência. Para ele, "a perda da visão é morrer. É o fim de uma certa maneira de viver que era parte do homem, ao término de métodos adquiridos, realizações e de perdas de relações humanas estabelecidas e inerentes ao meio ambiente. A morte pela cegueira destrói um padrão inteiro de existência. A pessoa dotada de visão está morta. A cega que surge poderá tornar-se a mesma pessoa somente se estiver disposta a suportar a dor da perda da visão que é múltipla. Elas se sobrepõem umas às outras. Qualquer uma delas é por si mesma grave. Juntas formam as múltiplas limitações que é a cegueira. Cada perda inclui um adeus doloroso. Mas, com a morte do homem de visão, o homem cego nascerá e sua vida poderá ser boa." Não se trata de aceitar ou não a cegueira. Ela é uma fatalidade. Se nos fosse oferecida, nós a recusaríamos. Ninguém gosta de ser cego. Diante de tão implacável evidência, a pessoa poderá viver confinada em um mundo fantasmagórico ou arriscar-se a ser feliz. Seu novo destino sofrerá todas as interferências de sua vida passada e presente, envolvendo padrões familiares, culturais, econômicos, políticos e sociais. Poderá viver sempre enlutado ou libertar-se para a vida. Para isto, precisa interrogar-se sobre seus sentimentos de recusa à cegueira, compreender suas emoções para superar a dor e o luto. As atitudes e comportamentos das pessoas que o cercam podem ou não ajudá-lo porque o enfrentamento emocional da perda é penoso para todos. A dor não deve ser consolada com falsas esperanças, promessa de cura ou de milagres. De nada adiantaria oferecer ilusão a uma pessoa cega. Cedo ou tarde ela descobrirá a verdade. O fato de estar indefesa ou vulnerável não deve servir para estimular a infantilização da pessoa cega que experimenta sentimentos profundos e emoções confusas com horror, pânico, comiseração, culpa e repúdio à cegueira. A pessoa entra em confronto direto com sua vida racional e afetiva. A elaboração da perda consiste em descobrir e depurar todos os sentimentos e emoções contidos no luto. Consiste em afirmar a falta, compreender a dependência e reconhecer as proporções reais e não imaginárias dos limites. Somente assim, a pessoa poderá ressurgir vitoriosa da morte parcial que é a cegueira e Aprenderá a separar-se do olhar morto, descobrindo a vitalidade de seu corpo. Ela encontrará outras maneiras de perceber e relacionar-se. Para isto, precisa vencer o medo, dando lugar à coragem. O cego precisa ser corajoso. Não é fácil, é necessário, pois a vida é desafiadora.



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[1] Fonte: Vivência, revista da Fundação Catarinense de Educação Especial: nº 8, 1990 p. 31.

[2] Elizabet Dias de Sá é psicóloga, presidente do Conselho Municipal de Pessoas Portadoras de Deficiência e trabalha na Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Belo Horizonte, Minas Gerais.

[3] referência ao sistema de escrita braille.

[4] alusão ao escritor mineiro Aires da Mata Machado.

[5] "A cegueira, o que ela é, o que ela faz e como viver com ela": trad. Jurema Lúcia Venturine e Ana Amélia da Silva: Fund para o Livro do Cego no Brasil, São Paulo,1968.

SOBRE A VÍRGULA (,)





Muito legal a campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).

Vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

Uma vírgula muda tudo.

ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

Detalhes Adicionais
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Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER.
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