MINHAS PRÁTICAS DE INCLUSÃO

Desde que tomei conhecimento de que na minha cidade, numa escola estadual, havia uma sala de recursos para atendimento aos alunos com deficiência visual, interessei-me pelo assunto. Depois fiquei sabendo também que na rede da 39ª Coordenadoria haviam sido cadastradas em torno de sessenta pessoas com DV. Nestes nove anos de trabalho junto aos alunos na sala de recursos, acolhi a idéia da inclusão com critérios claramente definidos, discutida em vários níveis, na escola e na sociedade, buscando contribuir para a autonomia dos alunos, sempre tão carentes de ajuda na superação de suas necessidades primordiais. O que considero de suma importância é a afinidade que podemos estabelecer com o aluno deficiente, pois é através desse vínculo de confiança que podemos aguçar seu interesse em promover cada vez mais sua cidadania, na busca de seus direitos primeiros, como documentação, aposentadorias, entre outros. Faço-os saber dos seus direitos, do que a legislação prevê para eles, pois do que eles necessitam é exatamente alguém que os oriente e que ao mesmo tempo os deixem caminhar. Depois, o incentivo à sua participação em cursos, fóruns, encontros, debates, associações, que só vem acrescentar um sabor especial na vida deles, pois sabem que não estão solitários em sua caminhada.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

MATEMÁTICA NO BRAILE



terça-feira, 6 de abril de 2010

O Diálogo com o Deficiente Visual


O diálogo com o deficiente visual

Por: ana flavia

O DIÁLOGO COM O DEFICIENTE VISUAL¹

Ana Flávia Teles²

RESUMO:

O diálogo entre os indivíduos que compõem a sociedade, não se restringe a leitura e a escrita convencional, pois, há diversos meios de contatos, e há indivíduos que por suas limitações físicas, expressam-se de formas restritas. O conhecimento do Sistema Braille, faz-se necessário na integração do deficiente visual na sociedade.

Palavras Chave: Língua. Sistema Braille. Inserção. Diálogo

ABSTRACT

The Dialogue between individuals that compose society consists not only in either reading or and conventional writing, because there are diverse ways of communication. Also, there are individuals due to physical limitations express themselves using restricted forms. Therefore, knowing the Braille System becomes necessary to integrate visual deficient into society.

Key Words: Language, Braille System. Insertion. Dialogue


As formas de comunicação entre os homens têm suscitado a curiosidade das gerações de forma sucessiva; a língua e seus símbolos têm viabilizado o contato dialogal entre os indivíduos de diversificadas culturas.

A língua é ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos.
(Saussure,1995,p. 17)

Restringir a linguagem à fala e a escrita convencional seria uma incoerência frente às deficiências que presenciamos no nosso meio de vivência, pois, se isto fosse um fato, descartaríamos os mudos, os cegos e outros deficientes de conviverem socialmente.

A língua é um sistema de signos que exprimem idéias, e é comparável, por isso, à escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares etc. Ela é apenas o principal desses sistemas.
(Saussure,1995,p.24)

É de extrema importância o conhecimento das outras formas de comunicação para a compreensão do indivíduo na sua alteridade, pois, para que ocorra um verdadeiro diálogo, faz-se necessário o conhecimento do outro nas suas singularidades, nas suas formas de manifestação, por conseguinte, isto influenciará na formação de identidades e na educação do indivíduo.“ Eu me ponho diante do diálogo como quem, pensando em torno do pensar, percebe que o pensar não se dá na solidão do sujeito pensante, porque, inclusive, o pensar se faz na medida em que ele se faz comunicante. ”(Freire apud Albuquerque, 2001,p.149)

Atendo-nos aqui aos deficientes visuais, faz-se notório que a educação inclusiva tem sido amplamente defendida na legislação brasileira, aguçando a curiosidade tanto dos profissionais da área da educação quanto às demais áreas profissionais, pois, o contato com os cegos tornou-se mais evidenciado que outrora, e o contato com o código de escrita do Sistema Braille tornou-se essencial.

Não podemos compreender o código de escrita e de leitura do Sistema Braille, utilizado a nível internacional, se não fizermos um sucinto comentário sobre este sistema.
Há registros de inúmeras tentativas em diversos países, de encontrar-se um meio que proporcionasse aos deficientes visuais a possibilidade de ler e escrever. Dentre essas, distingue-se a representação dos caracteres comuns em linhas de alto relevo, adaptado pelo francês Valentin Haury, fundador da primeira escola de cegos no mundo, o Instituto Real dos jovens Cegos, em 1784, na cidade de Paris.

Louis Braille estudante desta instituição tomou conhecimento de uma invenção denominada de código militar que, objetivava a comunicação noturna entre os oficiais nas campanhas de guerra, desenvolvida por Charles Barbier, oficial do exército francês. O invento baseava-se em doze sinais, compreendendo linhas e pontos, representando sílabas da língua francesa; este invento não obteve êxito no que se propunha, mas serviu de inspiração para Braille na criação do Sistema Braille.

Este sistema diferencia-se dos demais por aplicar-se tanto na leitura quanto na escrita e, por constituir-se de apenas seis pontos em relevos dispostos em duas colunas, que possibilita a formação de sessenta e três símbolos diferentes, usado nos diversos idiomas, em textos literários, nas simbologias matemática e científica em geral, entre outros.

Na visão de Massini- Cagliari,(2001), “ a escrita representa o mundo de maneira indireta,ela representa a fala”. Por isto é válido ressaltarmos a inserção dos deficientes nas escolas, para que também sejam confirmados em suas vicissitudes e, para que seja minimizada as fronteiras de contato entre o deficiente visual e o desprovido desta deficiência; mas isto se intensificará, quando o sistema educacional passar por um processo de reciclagem em alguns métodos de ensino.

A grande riqueza da experiência de um educador que se põe na postura que a gente está tentando descrever aqui está exatamente em que, no fundo, ele deve viver a relação entre sua posição, curiosa também, mas de quem já percorreu uma certa caminhada em torno do objeto que ele está propondo agora a ser desvelado pelo educando... Ele deve viver a relação entre a sua posição de quem já sabe algo e a posição do educando saber aquilo. ( Freire apud Souza,2001)

Como nos certificaremos que haverá uma verdadeira integração das pessoas cegas na sociedade, se as pessoas que constituem a sociedade não têm o contato com o indivíduo que conhece o mundo da leitura através da significação tátil? Será que haverá realmente o contato, ainda mais se o deficiente só se comunicar através do Sistema Braille?

O que é diálogo? O significado comum é conversar juntos. Um diálogo existencial é o que acontece quando duas pessoas, em que cada pessoa é ‘impactada por’ e ‘responde ao’ outro, Eu e Tu. Não é uma seqüência de monólogos preparados.
(Yontef,1998)

Olhar o outro nas suas limitações e confirma-lo em sua existência, proporciona uma aceitação de si mesmo, uma aceitação da sua realidade, pois há coisas que não podem ser mudadas, como cita Yontef (1998), que “enganar a si mesmo é à base da inautenticidade: vida que não é baseada na verdade de si próprio no mundo leva a sentimentos de medo, culpa e ansiedade”.

O conhecimento do Sistema Braille é imprescindível para que aja um verdadeiro contato com o deficiente visual, pois esta é uma forma de comunicação sua, logo, “o diálogo requer pelo menos duas pessoas entrando em uma relação genuína entre si. A dialética refere-se a uma interação entre duas polaridades.” (Hycner, 1995)

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1 Artigo apresentado a disciplina Psicolingüística do Curso de Psicologia do UNICEUMA.

2 Concludente (2008.1) do Curso de Psicologia do UniCeuma


REFERÊNCIAS


LEMOS, Edison . O sistema Braille no mundo e no Brasil (artigo)- Membro da Comissão Brasileira de Braille – Rio de Janiero,1995

MEC. Instituto Benjamin Constant. Revista Benjamin Constant, Rio de Janeiro,v.3, n.6,1997

SAUSSURE, F. Curso de Lingüística Geral. 3. ed. São Paulo: Cultrix,2004

YONTEF, Gary. Processo, Diálogo e Awareness. São Paulo: Summus,1998

SOUZA, Ana Inês (org.). Paulo Freire Vida e Obra. São Paulo: Expressão Popular,2001

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